Entre 12 e 16 de setembro, a tempestade Boris causou um dos maiores eventos climáticos ou meteorológicos na Europa Central e Oriental, atendendo aos danos. Para além de mais de duas dezenas de vítimas mortais, a Gallagher Re, estimou os danos de património na ordem dos 2 a 3 mil milhões de euros, ameaçando as seguradoras da região com as suas maiores perdas em décadas.
O evento ocorreu na sequência da deslocação do sistema de baixas pressões Boris, que se formou no Mediterrâneo Central e que se veio a imobilizar sobre a Europa Central, provocando chuvas recorrentes, durante vários dias. As suas consequências foram agravadas por um fluxo de ar frio proveniente da região polar, que limitou a capacidade de evaporação, com a consequente retenção de águas nas bacias hidrográficas. A forte pluviosidade, que não é usual neste período do ano, levou a que os rios e cursos de água da região saíssem dos seus leitos e provocassem inundações, sobretudo na Chéquia, Áustria e Polónia, mas com impacto também na Eslováquia, Hungria e Roménia. No seu pico, 270 localidades reportaram encontrar-se em estado de inundação, 120 das quais acima do terceiro nível, o mais alto.
A tempestade Boris surge na sequência de outros eventos que denotam uma grande variabilidade entre secas intensas e chuvas anómalas na Europa. Este contexto é compatível com as investigações realizadas sobre alterações climáticas, que sugerem uma frequência elevada de alternância entre extremos climáticos. Tal levou o Comissário de Gestão de Crises da UE, Janez Lenarčič, a considerar que estas inundações, bem como os incêndios que afetavam Portugal seriam sinais de “colapso climático”, afastando a ideia de que estes se tratassem de meras anomalias. Afirmou ainda que a Europa é o continente que mais aquece globalmente, sendo particularmente vulnerável a eventos climáticos extremos.
O histórico recente elevou a atenção dos resseguradores quanto ao perigo de inundações no continente, que poderá indiciar uma normalização destes sinistros, no futuro. Assim, as resseguradoras haviam já aumentado os preços e retenções, em 2023. Tal facto poderá ter conduzido a uma situação em que uma maior proporção de perdas venha a ser assumida pelas empresas seguradoras. Empresas como a polaca Powszechny Zaklad Ubezpieczen e as austríacas Vienna Insurance Group (VIG) e Uniqa Insurance Group estarão particularmente expostas, pelo que se espera um elevado impacto regional no setor. A estas somam-se ainda a Generali e a Allianz. Também a Wiener Staedtische deverá enfrentar um evento histórico, atendendo ao nível recorde das indemnizações.
De acordo com a Business Intelligence, poderemos assistir a diferenças no que respeita indemnizações consoante o país, pois os seguros residenciais contra inundações são mais comuns na Áustria e Chéquia, do que na Polónia.
Segundo a Aon, o evento foi previsto com antecedência pelos modelos meteorológicos existentes, o que permitiu ampla preparação, com a revisão dos sistemas de alerta e dos planos de evacuação, bem como a gestão efetiva da água, permitindo o aproveitamento da capacidade de retenção dos reservatórios existentes. Os alertas públicos, bem como os investimentos realizados em defesas contra inundações, desde as cheias de 1997 na República Checa e Polónia, permitiram a mitigação dos danos.
Fonte: Gallagher Re