Atualmente as seguradoras enfrentam um conjunto de preocupações que refletem as mudanças aceleradas e simultâneas em vários domínios como o económico, o tecnológico e o ambiental.
A pandemia do COVID-19 demonstrou o impacto devastador dos riscos sistémicos na economia global. Outros riscos desta categoria, como os ataques cibernéticos massivos, as crises financeiras, os eventos extremos da natureza (incêndios florestais, terramotos, inundações) e as crises geopolíticas colocam as seguradoras em cenários complexos onde os modelos de resposta tradicionais não servem.
Para além da necessidade de desenvolver a sua adaptabilidade nos modelos de negócio e nas parcerias transversais e intersectoriais, devem capacitar- se com modelos de avaliação de risco que permitam avaliar a sua constante evolução, como é o caso do risco geopolítico.
Neste contexto do risco sistémico e dos eventos causadores de crises em cadeia, existe uma técnica analítica que ajuda na análise dinâmica, designada cone de plausibilidade e que é uma técnica de construção de cenários em situações de grande incerteza futura.
O cone de plausibilidade consiste num processo estruturado que usa key drivers e assunções para gerar um conjunto de cenários alternativos plausíveis que ajudam o decisor a imaginar vários futuros e as respetivas dinâmicas. Trata-se de uma ferramenta de análise estratégica que é muito útil para as seguradoras na avaliação das possíveis consequências financeiras de um evento.
A técnica implica a adoção dos seguintes passos:
- Reunir um conjunto de peritos de background diverso. Definir o assunto ou tema a ser examinado e o período temporal para a avaliação (exemplo: 2 meses, 3 anos, 10 anos)
- Identificar os driversque são key factors ou forças, mais úteis na definição do assunto e do seu contexto. Fazê-lo através de mnemónicas como por exemplo o PESTAL, que significa as variáveis Política, Económica, Social, Tecnológica, Ambiental e Legal (em inglês, PESTEL).
- Os drivers, em número de 4 a 7, devem de ser escritos de forma neutra e manter-se válidos durante o período definido para a avaliação. A título de exemplo, deve escrever-se situação económica e não “declínio do crescimento económico”
- Fazer assunções de como os driversirão atuar no decurso do tempo definido, de forma o mais concreta possível. Por exemplo, a economia crescerá entre 2 a 4% ano nos próximos 5 anos, e não, “a economia crescerá”.
- A partir daqui gerar o cenário base ou “baseline” que traduz, geralmente, a projeção para o futuro da situação presente, usando as assunções sobre o f comportamento esperado da força ou key driver, dentro da variável. Depois, construir 1 a 3 cenários alternativos, mudando 1 assunção ou várias: um cenário mais negativo, outro mais positivo.
- Por fim, gerar um cenário wild card, alterando a assunção que se considere menos provável de apresentar alteração. Isto permitirá criar um cenário de alto impacto / baixa probabilidade (high impact low probability), que, de outra forma, não seria considerado.
O cone de plausibilidade é, assim, construído para mostrar a faixa de potenciais resultados financeiros e consequências no futuro, com base em incertezas e suposições probabilísticas sobre a ocorrência de eventos catastróficos. Por ser uma técnica de elaboração de cenários, ajuda a pensar no como nos podemos preparar para responder a cada um desses cenários. Não se trata de fazer previsões, mas de uma ferramenta de auxílio ao decisor.