A SOCIEDADE DA LONGEVIDADE

O envelhecimento é um processo fisiológico de degeneração que conduz a deterioração das estruturas celulares, o que com o avançar da idade, contribui para comprometer a função dos órgãos e sistemas.
No entanto, o envelhecimento não é um processo homogéneo. Os diferentes indivíduos e, mesmo, os vários órgãos de cada individuo envelhecem a ritmos diferentes, influenciados por múltiplos fatores, incluindo os genéticos, o estilo de vida e a exposição ambiental. Estudos em gémeos demonstraram que a genética contribui em apenas 25% para a longevidade, enquanto os fatores ambientais e de estilo de vida têm um peso mais importante, superior a 60%.
É reconhecido que uma das grandes conquistas do século XX foi o aumento espetacular da esperança de vida. Refira-se que esta, em Portugal, cresceu cerca de 30 anos nos últimos 50 anos do século XX e mesmo nas primeiras décadas deste novo século continua a aumentar. Verifica-se que, em média, durante os últimos oitenta anos, a esperança de vida aumentou cerca de dois a três anos por cada década. A manter-se este ritmo de aumento da esperança de vida significa que as crianças nascidas nos últimos anos irão em grande proporção atingir os 100 anos.
Estamos perante uma conquista incrível, em que nem tudo é positivo. Do nosso sucesso resultou também uma epidemia de doenças crónicas associadas ao envelhecimento. Esta população com idades mais avançadas traz novos desafios, resultantes da elevada prevalência das síndromes e doenças geriátricas, muitas das quais não são ainda completamente compreendidas, mas muitas são, pelo menos, parcialmente evitáveis. Falamos de uma série de doenças: doença de Alzheimer, degenerescência macular da idade, osteoartroses, cancros, enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidentes vasculares cerebrais, a síndrome de fragilidade, etc.
Aquilo a que chamamos idade cronológica, e que tanto valor tem para a burocracia dos Estados, pode bem ser diferente da verdadeira idade. A esta, em medicina, chamamos a idade biológica, a que verdadeiramente define quão velhos somos. Não quantos anos já temos, de acordo com o registado no cartão de cidadão, mas sim como estamos do ponto de vista funcional.
Felizmente análises recentes mostram que a idade média de manifestação das várias doenças crónicas aumentou cerca de 10 anos durante os últimos 80 anos, o que indica que estamos não só a viver mais tempo que no passado, mas também a viver mais saudavelmente, ou seja, em melhor estado, mesmo nas idades mais avançadas. No passado, atingir uma idade muito avançada era quase considerado ser-se condenado a viver como velho durante muitos anos, pelo contrário, agora muitas pessoas estão a viver mais tempo, mas como jovens. Em rigor o que está a aumentar não é a velhice, mas antes a proporção de pessoas com um estado funcional da meia-idade.
Sabemos que, para se conseguir uma maior longevidade e um envelhecimento saudável, é particularmente importante ter uma alimentação saudável e praticar atividade física com regularidade. A vida sedentária acelera o envelhecimento biológico, enquanto um estilo de vida fisicamente ativo tem um efeito marcadamente benéfico.
No que respeita à alimentação, a dieta mediterrânica é a dieta mais estudada e a que tem a melhor evidência de vantagens para a saúde. Diversos estudos recentes demonstraram os seus benefícios, nomeadamente na promoção do envelhecimento saudável.
Hoje a prestação de cuidados médicos está organizada por órgãos, assim se tem um problema cardíaco vai ao cardiologista e ele consegue evitar o enfarte do miocárdio pelo controlo dos fatores de risco, como a pressão arterial e o colesterol. As doenças cardiovasculares estão a cair. Missão cumprida pela cardiologia, e isso é ótimo. Mas o problema é que o doente continua em risco de outras doenças, como o Alzheimer, o cancro, a insuficiência cardíaca, etc.
No futuro vamos conseguir atuar com maior eficácia no envelhecimento, que é o maior fator de risco para todas as doenças. Nós iremos não só atacar o colesterol, a pressão arterial ou a diabetes, mas também os mecanismos de envelhecimento, o que irá ter um impacto profundo sobre todas as doenças. Será preciso uma abordagem, mais holística em que os médicos de família, internistas e geriatras terão um papel fundamental, numa medicina que será mais preventiva que curativa.
Hoje é expectável que um homem ou mulher, por exemplo, de 70 anos viva, em média, mais cerca de duas décadas, que podem e devem ser disfrutadas com vitalidade e dignidade. Na sua oitava década de vida e nas seguintes, estes homens e mulheres, devem manter-se fisicamente ativos, mentalmente estimulados e socialmente envolvidos, para com a sua experiência e sabedoria, exercer uma influência benéfica na sociedade.



