União Europeia
A cerca de um ano das eleições para o parlamento federal alemão (Bundestag), o mês de setembro ficou marcado pelas eleições regionais em três dos 16 Estados da República Federal da Alemanha, nomeadamente Saxónia, Turíngia (1 de setembro) e Brandemburgo (22 de setembro), todos eles situados no território da antiga República Democrática Alemã (RDA).
Embora a CDU, de centro-direita, tenha obtido uma vitória marginal na Saxónia (31,9%), a AfD, de extrema-direita ou radical, ficou a pouco mais de um ponto percentual de distância. A AfD obteve, no entanto, uma vitória folgada (32,8%) sobre a CDU na Turíngia, na ordem dos 10 pontos percentuais. No Brandemburgo, o SPD (30,9%) conseguiu contrariar as projeções eleitorais e ficar à frente da AfD, por menos de dois pontos percentuais.
Merece ainda destaque o facto da recém-criada Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) – resultante de dissidentes do partido Linke, de extrema-esquerda ou radical -, que pela primeira vez se submeteu a votos, ter emergido como a terceira maior força nas três regiões, beneficiando do contexto da guerra na Ucrânia. Para além da oposição à instalação de mísseis dos EUA em solo alemão, a BSW tem vindo a adotar uma postura cética em relação ao apoio à Ucrânia, à semelhança da AfD. Ao fim de dois anos de conflito na Europa, estas duas forças foram capazes de infligir perdas consideráveis aos partidos instalados, que têm vindo a adotar uma postura favorável à Ucrânia e um maior ou menor grau de abertura face às imigração. O seu sucesso gerou ondas de choque com projeção quer ao nível federal, quer ao nível europeu. Ao contrário da AfD, que é penalizada pelo “cordão sanitário” que lhe é imposto pelos restantes partidos, a BSW poderá agora vir a constituir parte das soluções governativas estaduais.
As eleições regionais na Chéquia, em 21 de setembro, deram a vitória ao partido radical de direita, ANO, na oposição, depois de uma campanha em que se tentou promover a ideia de “referendo” à política do governo de centro-direita liderado pelo Partido Democrático Cívico. Não obstante a vitória, o partido do antigo Primeiro-Ministro Andrej Babiš deverá ter dificuldade em integrar coligações, pois o ANO é comummente rejeitado por partidos democráticos liberais, só tendo obtido condições de governar sozinho em três das 13 regiões que foram a votos. O ato eleitoral colocou o Primeiro-Ministro Petr Fiala e o seu governo sob pressão, a cerca de um ano das legislativas de 2025. A segunda volta das eleições para o Senado encontrava-se prevista para o fim-de-semana de 28-29 de setembro.
Não menos importante, as eleições legislativas na Áustria, em 29 de setembro, deram a vitória ao partido FPÖ (28,9%), de extrema-direita ou radical, que, pela primeira vez, foi o partido mais votado, com uma vantagem superior a dois pontos percentuais face aos conservadores do ÖVP. Não obstante o ÖVP não ter excluído uma aliança pós-eleitoral com o FPÖ, partido com o qual já se coligou anteriormente, mas em posição de liderança, o Chanceler cessante, Karl Nehammer, declinou trabalhar com o seu líder, Herbert Kickl, conhecido pelas suas posições mais radicais. Os restantes partidos, nomeadamente os liberais do NEOS e os ecologistas dos Verdes, rejeitaram liminarmente qualquer coligação com o FPÖ. A campanha eleitoral foi marcada pelos temas da imigração, da inflação e declínio da economia e ainda da guerra na Ucrânia. O FPÖ defende o fim das sanções à Rússia, país com o qual a Áustria mantinha fortes laços económicos.
Resto do Mundo
Fora da Europa, importa referir as Eleições Presidenciais na Venezuela, de 28 julho. O Conselho Nacional Eleitoral declarou Nicolás Maduro como vencedor. A oposição não reconheceu os resultados, que qualificou de fraudulentos, colocando em causa o órgão responsável pelo escrutínio, liderado por um aliado do presidente reeleito. Os resultados foram, entretanto, validados pelo Supremo Tribunal de Justiça, não obstante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas ter advertido que aquele Tribunal carecia de independência e imparcialidade.
O período pós-eleitoral ficou marcado por protestos violentos, que originaram dezenas de mortos e provocaram milhares de detenções.
Países como a Rússia, Bolívia, Honduras, Irão, China, Cuba e Nicarágua manifestaram o seu apoio a Maduro.
O líder da oposição, Edmundo González, obteve asilo em Espanha e apresentou cópias de atas que o colocavam como o vencedor do ato eleitoral. Não tendo as autoridades venezuelanas apresentado as atas originais, o Conselho Europeu decidiu não reconhecer a legitimidade de Nicolás Maduro.
O partido afeto ao Presidente do Azerbaijão, Partido Novo Azerbaijão (YAP) alcançou 68 dos 125 lugares da Assembleia Nacional (Milli Mejlis), nas eleições legislativas de 1 de setembro. Tratou-se do primeiro ato eleitoral que envolveu os territórios do Karabakh e do Zangezur Oriental, após o conflito com a Arménia e os independentistas do Nagorno-Karabakh. Os partidos da oposição alcançaram 11 lugares e os restantes 46 foram dispersos por candidatos independentes. O escrutínio foi alvo de críticas pelos observadores eleitorais da OSCE.
As Eleições Presidenciais na Argélia, em 7 de setembro, deram a vitória ao Presidente incumbente, Abdelmadjid Tebboune, que alcançou assim o seu segundo mandato, com mais de 84 por cento dos votos expressos.
As Eleições Regionais na Rússia, que se realizaram entre 6 e 8 de setembro, ficaram marcadas pela realização do ato eleitoral em ambiente de conflito, não obstante o esforço das autoridades para transmitir uma sensação de normalidade. A UE não reconheceu as eleições e os seus resultados nos territórios ucranianos ocupados, designadamente na Crimeia.
As eleições legislativas na Jordânia, em 10 de setembro, provocaram a demissão do Governo de Bisher Khasawneh, depois da Frente de Ação Islâmica (a filial jordana da Irmandade Muçulmana) ter alcançado 31 dos 138 lugares no parlamento, multiplicando por seis a sua representação parlamentar face a 2020. O Rei Abdullah II nomeou Jafar Hassan, o seu Chefe de Gabinete desde 2021, como Primeiro-Ministro.
As Eleições Presidenciais no Sri Lanka, em 21 de setembro, deram a vitória a Anura Kumara Dissanayake, do partido Janatha Vimukthi Peramuna (JVP), de orientação marxista-leninista, impedindo a reeleição de Ranil Wickremesinghe, responsável pelas medidas de combate à crise económica, desde 2022.