ATEROSCLEROSE, A DOENÇA SILENCIOSA
A função principal do aparelho digestivo é o de proporcionar ao organismo água, vitaminas, sais minerais, hidratos de carbono, proteínas e lípidos. Como são moléculas muito grandes para serem absorvidas pelas células que revestem o intestino, (enterócitos) o aparelho digestivo encarrega-se de digerir os nutrientes, tornando-os moléculas mais pequenas e absorvíveis. As proteínas são fracionadas em aminoácidos, os hidratos de carbono em glúcidos, e as gorduras em ácidos gordos.
Cerca de 95% das gorduras provenientes da nossa alimentação, são triglicéridos (3 ácidos gordos ligados a uma molécula de glicerol). Os outros 5% são colesterol e fosfolipídios.
Os triglicéridos são importantes fornecedores de energia e por isso têm como destino preferencial as células musculares. São armazenados como reserva energética, no tecido adiposo subcutâneo.
Os fosfolipídios e o colesterol são importantes para formar a membrana das células.
O colesterol é também essencial para a produção de algumas hormonas esteroides sais biliares e vitamina D.
As gorduras não são solúveis no plasma sanguíneo que é 90% água. Para que possam ser transportadas têm de se ligar a uma proteína formando uma lipoproteína e é desta forma que elas percorrem o organismo.
Existem vários tipos de lipoproteínas:
- Quilomícrons
- Lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL)
- Lipoproteínas de baixa densidade (LDL)
- Lipoproteínas de alta densidade (HDL)
As quilomicrons são formadas pelos enterócitos a partir da gordura contidas nos alimentos. São maioritariamente constituídas por triglicéridos.
As VLDL são produzidas pelo fígado, são ricas também em triglicéridos que os transportam para os músculos e para o tecido adiposo.
As LDL são o remanescente das VLDL após a entrega dos triglicerídeos. Já são ricas em colesterol e levam-no para todas as células do organismo.
As HDL são formadas no fígado e servem para remover e trazer para o fígado o colesterol em excesso nos tecidos do organismo e daí que sejam consideradas o “bom colesterol” ao contrário das outras lipoproteínas que vão deixando o colesterol “pelo caminho” formando as placas de gordura que estreitam as artérias e dificultam a passagem do sangue rico em oxigénio para os órgãos (a aterosclerose).
Sendo assim, se subtrair ao valor do meu colesterol total o valor do HDL-colesterol vou ficar com o “não-bom” colesterol, grande parte dele será o LDL-colesterol.
O que está recomendado é que o colesterol total não exceda os 190 mg/dL e que o HDL-colesterol seja superior a 60 mg/dL. Ora 190-60=130 e este é o valor que não devemos exceder de colesterol não HDL ou seja, um “não-bom” colesterol, que deverá ser quanto mais baixo melhor.
Os níveis de lipoproteínas aumentam ligeiramente à medida que as pessoas envelhecem. Normalmente esses níveis são ligeiramente mais elevados nos homens do que nas mulheres, ainda que nestas comecem a aumentar depois da menopausa. Mas também aumentam precocemente devido a maus hábitos alimentares, ao sedentarismo, ao tabagismo, à diabetes, entre outros fatores de risco.
A aterosclerose não é uma doença exclusiva do coração, é sim uma doença exclusiva das artérias e daí que, de facto, afeta as artérias que fornecem sangue ao coração (causando doença coronária), as que fornecem sangue ao cérebro (causando acidente vascular cerebral, AVC) mas afeta também as artérias que fornecem sangue ao resto do corpo (causando doença arterial periférica).
A doença coronária e o AVC são preocupação habitual da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Já a Doença Vascular Periférica não é muito falada, mas não deixa de ser uma doença bastante incapacitante.
É por vezes chamada a “doença das montras” uma vez que as pessoas depois de caminharem alguns metros, sentem uma dor na barriga de uma das pernas (a que tem a artéria mais afetada com aterosclerose) que as obriga a parar. Aproveitam uma montra para o fazer. Olham sem ver, até que a circulação se restabeleça. Nessa altura a dor desaparece e a pessoa pode retomar o caminho sem dores. Habitualmente a dor surge sensivelmente à mesma distância. Esta é a doença vascular periférica que se mantém assim até a artéria estar totalmente obstruída. A gangrena e a amputação do membro são o destino final da doença.
As doenças cardiovasculares são bastante incapacitantes, quer ocorram no coração, no cérebro ou noutros territórios arteriais.




