Realizou-se, no passado dia 8 de maio, o seminário ‘Inteligência Artificial – Desafios e Oportunidades para o Seguro de Saúde’ que lançou o ‘Ciclo de Formação em Seguros de Saúde’ da APS.
A abertura do seminário coube a Helena Rego, em representação da APS, que começou com uma metáfora ilustrativa do que nos pode acontecer com a Inteligência Artificial (IA) se não estabelecermos regras. Falou de um livro de culto do escritor Checo Karel Capek, A Guerra das Salamandras, que conta a história de um capitão, que ao largo de uma ilha, começando por descobrir uns bichos inteligentes, acaba por escravizá-los ao serviço do comércio e estes, os Salamandrinos, começam a olhar para a humanidade e a perceber que também podem reivindicar o planeta para si porque, entretanto, o mesmo começava a não ter espaço para as duas espécies.
Num apelo à necessidade de uma ética para a IA, recordou, ainda, as regras estabelecidas por Isaac Asimov para os robôs, no Livro I robot de1939:
1 – Um robô não pode ferir um ser humano;
2 – Um robô deve de obedecer às ordens dos humanos, exceto se entrarem em conflito com a regra 1;
3 – Um robô deve de proteger a sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a 1.ª e 2.ª regras;
4 – Um robô não pode causar mal à humanidade. (lei zero – foi acrescentada mais tarde).
Na vertente positiva, referiu os avanços que têm sido feitos na nossa forma de fazer previsões sobre o comportamento das pessoas com modelos preditivos que apontam tendências, até à utilização de chatbots, como é o caso do ChatGPT que, em poucos minutos, nos poupam dias de pesquisa. Mas há um lado mais sombrio que já há umas décadas nos preocupa e que entra nas cenarizações sobre o futuro – o chamado momento da singularidade tecnológica, no qual uma superinteligência artificial poria fim à humanidade como nós a conhecemos porque ultrapassaria a inteligência humana.
Os oradores apresentaram e debateram os desafios e oportunidades que a Inteligência Artificial (IA) representa para o setor segurador em geral e na saúde em especial.
O primeiro orador foi Steven Braekeveldt, CEO do Grupo Ageas Portugal, com a sua apresentação ‘From teeth to toe. The first nano-steps of AI’. A sua apresentação, inspiracional, foi uma verdadeira Fantastic Voyage (em referência a um filme da sua infância, em que um coágulo de sangue deixa um cientista em coma e um submarino e a sua tripulação são encolhidos e injetados na sua corrente sanguínea para o salvar). Um pensamento preocupante, IA pode fazer-nos sentir obsoletos uma vez que fomos educados para obter respostas, o que ela faz muito mais rapidamente, sendo necessário alterar o paradigma educativo para o saber fazer perguntas, o critical thinking. Teremos de nos adaptar. Tudo isto sabendo dos riscos da manipulação e desinformação induzidos pelo chatgpt. Falou-nos, também, das cinco categorias de impacto da IA na saúde (melhoria do diagnóstico; aceleração do processo de investigação; transformação do diagnóstico; gestão dos dados de saúde, e cirurgia robótica) e sublinhou estarmos, ainda, na infância da IA.
Seguiu-se Ricardo Gonçalves, responsável pelo Center for Artificial Inteligence & Analytics da Fidelidade, com uma intervenção sobre ‘A Inteligência Artificial e a Saúde’. Falou-nos da possibilidade de usar a sua speechbot – Maria – da área dos sinistros (desde 2021) na área da saúde, com mais rapidez nas respostas, na antecipação de doenças, na recolha de dados e até na leitura do código genético, disponível 24h, 7 dias da semana. Tranquilizou-nos ao dizer que continuaremos a precisar do Homem.
O último orador foi Tiago Durão, Responsável IA & Data da Deloitte, que se debruçou sobre ‘O presente e futuro da Inteligência Artificial’.
A inteligência generativa ajuda a aumentar a capacidade do capital humano das empresas. A IA faz três operações: sumaria (reduz, sintetiza), transforma(traduz) e gera operações (escreve uma carta, por ex.). A Open AI não sabe nada das nossas organizações e temos de criar bases de dados de conhecimento estruturado e essa é a grande questão para as nossas empresas. O desafio para as pessoas, mais uma vez referido, é a gestão da mudança, o critical thinking.
Houve um consenso de que a IA não será uma moda passageira, mas antes uma grande vaga que se começa a desenvolver, e que é importante, por isso, conhecer, regulamentar e democratizar o seu uso. É fundamental acelerar o ritmo da mudança de mentalidades o que passa pela educação. Foram, ainda, apresentados exemplos de como a IA já está a ser implementada pelas seguradoras, auxiliando os processos desde o momento da subscrição até à resolução de sinistros, passando pelo contacto com o cliente.
O ‘Ciclo de Formação em Seguros de Saúde’ envolveu depois 4 módulos entre os dias 13 e 17 de maio, debatendo temas como os novos riscos nos seguros de saúde, a experiência do cliente, a promoção e prevenção da saúde e a gestão de redes de prestadores.